sábado, 7 de novembro de 2009

A experiência do parto

Queria, para iniciar nossa conversa, trazer um trecho do texto de Adailton Salvatore Meira, médico obstetra que escreveu a introdução da edição brasileira do livro Parto Ativo: Guia Prático para o Parto Natural de Janet Balaskas.

"O parto, uma experiência fundamental, profunda e marcante, deixa cicatrizes, em todos os sentidos, na vida das mulheres e, às vezes, influencia indiretamente toda a família. De certa maneira, o nascimento sela a relação que vai existir entre a mãe e a criança para o resto da vida, dá o matiz do eixo de transferência e contra-transferência, influenciando a postura que o novo ser terá em relação à vida.
O parto pode deixar um saldo positivo ou negativo. Por um lado, pode ser uma oportunidade de a mulher que dá à luz ter vivências que vão dignificá-la, de crescer perante ela mesma e ser mais mulher ainda. Alguns dizem que o parto pode ser uma experiência que vai de certa maneira, "limpar" as experiências negativas relacionadas à sexualidade, bloqueios, traumas, abortos, etc. São vivências que vão fortalecer o "eu interior". Em minutos a mulher pode reviver seu prórpio nascimento e a complexa relação com sua mãe. Em nenhum momento o instinto profundo de fêmea fala tão alto. Ela se transforma, não dá para segurar... o marido que já acompanhou a esposa durante o trabalho de parto sabe do que estou falando: "É uma outra pessoa". Uma outra mulher aflora naquele momento. [...]

Infelizmente nem todas as mulheres têm o privilégio de vivenciar o lado positivo dessa experiência, e quando encontram outra grávida limitam-se a fazer lamúrias e agouros, do tipo "você vai ver como não é fácil". O que aconteceu com o parto? Por que uma mudança tão profunda em toda a sociedade em tão pouco tempo (duas ou três décadas)? Por que tanto medo?
O que aconteceu com o parto vaginal (não usei a expressão parto normal porque ultimamente o normal está se tornando, no Brasil, nascer por via abdominal)? Somos campeões mundiais de cesarianas. Quais seriam as justificativas desse fenômeno? Mais segurança para os nascimentos? Será que Deus errou na criação e esqueceu de colocar um zíper no abdome das mulheres?" (p. 16-17).


São esses os questionamentos que devemos nos fazer, todas nós mulheres e também homens. Por que tanto medo? O que mudou nesses tempos modernos? As mulheres esqueceram o que é ser mulher, como é o processo de dar à luz? Parece que tudo aquilo que exige entrega, receptividade nossa sociedade, nós mesmas, rechaçamos. Queremos ter o controle de tudo, ser independentes. Mas será que somos independentes quando deixamos que outras pessoas decidam o que é melhor para nós num momento tão especial e único como a experiência que pode ser transformadora de dar à luz? Numa experiência tão visceralmente feminina e poderosa, deixamos que nos transformassemem objetos e completamente alheias ao que se passa conosco. Apenas o saber médico é o que vale, nós mulheres não sabemos mais nada de gravidez, de parto. Vamos perguntar às nossas mães,  e, não raro a resposta é que também não sabem. O médico decidiu, houve uma complicação, não havia dilatação, doze horas de parto e... cesárea. Será? Será que não sabemos nada do nosso corpo? É justamente esse objetivo deste blog: um espaço de  informações e perceber que podemos sim ser protagonistas desse momento tão único para mulheres e homens, mães e pais. Como dizia uma ativista do parto humanizado, quando mudarmos a forma como nascemos, mudaremos a relação que estabelecemos com o mundo. Ser recebido num ambiente de amor, acolhedor desde o ínicio faz toda a diferença. Brincando um pouquinho, como diz aquele ditado: A primeira impressão é a que fica! Sintam-se à vontade para discutir, conversar, perguntar!